Duas declarações recentes, feitas por autoridades públicas, levantaram questionamentos sobre o estado mental do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). As falas, com tom crítico e conteúdo pessoal, foram dadas em entrevistas à imprensa e colocaram em evidência a conduta do magistrado à frente de processos envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello afirmou: “Eu teria que colocá-lo em um divã e fazer uma análise talvez mediante um ato maior, e uma análise do que ele pensa, o que está por trás de tudo isso”.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente da República, foi mais enfático durante entrevista ao portal Metrópoles. “Eu acho que o Alexandre de Moraes precisa, sim, de uma ajuda profissional. Ele está precisando, ele não está nas faculdades mentais normais”. O parlamentar ainda acrescentou: “Eu acho que ele precisa de uma internação compulsória. É uma pessoa que está obcecada por Bolsonaro, que atropela a Constituição a todo momento para atingir o seu objetivo de prender o Bolsonaro. Sabe aquele cara que é viciado em crack, que não está mais em condições de decidir se ele tem que ser internado ou não?”.
As declarações motivaram a Gazeta do Povo a ouvir especialistas da área da saúde mental. Consultados pela reportagem, um psiquiatra e uma psicóloga fizeram análises baseadas em materiais públicos, como vídeos de audiências conduzidas por Moraes. Ambos reforçaram, no entanto, que seria antiético e clinicamente irresponsável emitir qualquer diagnóstico a distância, sem avaliação pessoal do magistrado.
A psicóloga e psicanalista Marisa Lobo foi ouvida pela reportagem, e em sua análise apontou que a conduta pública de Moraes sugere “traços de personalidade marcados por forte necessidade de controle, baixa tolerância à oposição e condutas centralizadoras”.
Ela acrescentou que esse comportamento se alinha a fenômenos conhecidos na psicanálise, como o chamado “narcisismo institucional”. Segundo explicou, trata-se de uma identificação rígida e inflada com o cargo exercido, o que pode gerar intolerância à crítica e resistência à escuta. “Esse padrão pode estar relacionado a traços obsessivos de personalidade, marcados pela imposição de ordem, domínio de regras e necessidade de previsibilidade – mesmo que, para isso, se ultrapassem limites legais e éticos”.
Marisa frisou que sua análise não se trata de um diagnóstico clínico. “O narcisismo institucional é uma patologia do ego. Não se refere a um transtorno clínico, mas sim a um funcionamento egoico inflado, que se manifesta nas decisões autoritárias, na intolerância à crítica e na centralização do poder”.
O psiquiatra Dario Leitão, que examinou imagens do ministro em momentos de maior tensão, como reprimendas a depoentes, afirmou: “É um cara que claramente não tem um temperamento do tipo cooperativo”. Segundo ele, dentro do modelo de avaliação da personalidade conhecido como Big Five, Moraes “pontuaria baixo no quesito amabilidade”. De acordo com Leitão, o ministro demonstra um comportamento pouco empático, com expressão facial que transmite “baixa tolerância à crítica”.
Na avaliação do psiquiatra, Moraes apresenta perfil pragmático, com foco em resultados objetivos, e traços coléricos. Leitão destacou: “Por ser um homem com grande poder, ele tem uma necessidade especial de lutar contra o orgulho”. Apesar disso, o médico não identificou sinais externos de transtorno mental. “Essa não é uma avaliação moral, mas sim uma leitura clínica baseada em observação”, completou.
Tanto Leitão quanto Marisa destacaram que nenhuma avaliação diagnóstica pode ser feita sem exame direto do indivíduo. Marisa definiu sua abordagem como “simbólica, psicológica e moral, mais do que diagnóstica”.
Fonte: Gospel mais